18.4.05

Dia de Gibi Novo: David Boring

Daniel Clowes é mais um dos autores vergonhosamente pouco publicados no Brasil, aparecendo só com duas histórias em antologias (Little Lit e Comic Book: O Novo Quadrinho Americano) e a graphic novel lynchiana Como Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro. Dá para entender: os quadrinhos de Clowes são bastante melancólicos, sem a sexualidade e política histérica de um Robert Crumb, para citar um exemplo de undergrounder bastante publicado no país.

Do mesmo modo que Ghost World (adaptado para o cinema, mas inédito por aqui até mesmo em DVD), David Boring é um romance de passagem, acompanhado um período de cerca de um ano particularmente turbulento na vida do protagonista-título. A história começa simples, com vinhetas do cotidiano de Boring e uma visita de um amigo de infância, mas logo toma um rumo estranho com um assassinato, um romance mal-fadado, uma segunda tentativa de assassinato e um ataque terrorista. Aqui, Clowes fica entre o realismo massacrante de Ghost World e os delírios de Como Uma Luva..., conseguindo que os absurdos aumentem o efeito das cenas banais e vice-versa.

Como sempre, Clowes usa imagens e palavra com igual eficiência. Exemplo disso é a história em quadrinhos feita pelo pai de Boring, sobre a qual ele se debruça de modo febril durante todo o livro. Os quadros mostrados imitam muito bem as hqs dos anos 70 e, quando sobrepostas às reflexões do protagonista, comentam a história sem perder a sutiliza na metalinguagem. Outros elementos interessantes são as inúmeras aparições de uma moeda, suposto amuleto de sorte, e as bundas femininas que tanto fascinam o personagem.

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